O DIA DO MEU BATISMO «FOGO» MONTE SIAI 10-01-1968
O DIA DO MEU BATISMO «FOGO» MONTE SIAI 10-01-1968
O DIA DO MEU BATISMO «FOGO» MONTE SIAI 10-01-1968
A companhia avançava desde o alvorecer deixando para trás CANJADUDE quartel que foi o ponto de partida para uma incursão operacional serpenteando através do capim, árvores bolanhas e todo o tipo de obstáculos, aproximando-nos do objetivo estabelecido pelas esferas militares, e sempre acompanhados pela velhinha DO que a determinada hora se retirou para a base.
Subido o monte SIAI a malta instalou-se para passar uma noite de alerta e já com o sol no ocaso, eis que a guerra estala com um frenesim inaudito envolvendo-nos numa luta sem tréguas , recordo que quase sufoquei devido à imensa poeira levantada e cheguei a pensar que ficaria ali para sempre, mas tal não aconteceu mas fiquei algo confuso pois ainda não estava sintonizado com a realidade.
É nessa fase de inércia momentânea que recordei tudo que estava para trás, o porquê de eu estar ali defendendo alguns que a essa hora estariam a banquetear-se, enquanto nós lutávamos para defender as nossas vidas, quando acordei da inércia em que tinha mergulhado o ataque do IN oscilava por cima das nossas cabeças parecendo mais o troar da trovoada com os seus raios luminosos, mas eram explosões e rajadas de todas as armas no seu matraquear característico da máquina de costura.
Mas reagimos ao matraquear das metralhadoras e dos morteiros do IN respondendo com o nosso querer e saber, as nossas armas vomitavam jactos de fogo para o meio do IN através da MG-42 bazuca e morteiro 60. Estava estirado no solo mas sentindo passar por mim os fogachos do IN que se desfaziam nas minhas costas revolvendo aquela terra como que a castiga-la acusando-a por ter recebido no seu seio tal intruso, faço fogo respondendo ao matraquear da outra arma através de uma abertura entre uma árvore e uma rocha onde me tinha postado, quando de repente sou pisado nas costas por alguém e que fica gritando (talvez pela minha imobilidade momentânea já que estava a mudar de carregador)está morto e ao qual respondi azedamente, está morto o carago.
Foi um dia tenebroso, desde o raiar da manhã na qual até as aves e os restantes habitantes daquela mata talvez sentindo mau presságio desertaram, pois não notamos a sua presença, ou não quiseram assistir a tal sinfonia.
Na manhã seguinte contabilizou-se alguns feridos entre nós, já o opositor não pode dizer o mesmo . e descemos SINAI a caminho do ponto de reunião que foi no CHECHE, onde a coluna que nos veio evacuar sofreu pelo caminho uma emboscada com minas anticarro antipessoal e na qual faleceram(2)militares e major do serviço de material que iam fazer uma inspecção do material existente no aquartelamento e sobretudo á célebre jangada que nos chegou a transportar para a outra margem nas deslocações da 1742 a MADINA DO BOÉ e BÉLI para abastecimento dos nossos camaradas ali colocados
A partir desse momento em que vivi a guerra na sua plenitude fiquei a ver este conflito de um outro ângulo, pois o invasor eramos nós, e que o IN nos combatia lutava com toda a sua legitimidade pois aquela terra é dele. Pergunto eu, para quê tanto camarada morto tanto deficiente e que hoje não têm o apoio das pessoas responsáveis deste meu país.
Amo a GUINÉ, e repugna-me ver como está sofrendo o seu povo, talvez um pouco por culpa nossa mas os responsáveis já cá não para serem responsabilizados.
E assim foram passados (2) dias de muitos sempre em actividade constante defendendo as nossas vidas e também as populações, pois elas procuravam o nosso apoio já pois sentiam-se seguras.
Termino desejando a todos os camaradas que passaram pela GUINÉ e em especial aos da CART-1742 aquele abraço.
Abel Santos.
A companhia avançava desde o alvorecer deixando para trás CANJADUDE quartel que foi o ponto de partida para uma incursão operacional serpenteando através do capim, árvores bolanhas e todo o tipo de obstáculos, aproximando-nos do objetivo estabelecido pelas esferas militares, e sempre acompanhados pela velhinha DO que a determinada hora se retirou para a base.
Subido o monte SIAI a malta instalou-se para passar uma noite de alerta e já com o sol no ocaso, eis que a guerra estala com um frenesim inaudito envolvendo-nos numa luta sem tréguas , recordo que quase sufoquei devido à imensa poeira levantada e cheguei a pensar que ficaria ali para sempre, mas tal não aconteceu mas fiquei algo confuso pois ainda não estava sintonizado com a realidade.
É nessa fase de inércia momentânea que recordei tudo que estava para trás, o porquê de eu estar ali defendendo alguns que a essa hora estariam a banquetear-se, enquanto nós lutávamos para defender as nossas vidas, quando acordei da inércia em que tinha mergulhado o ataque do IN oscilava por cima das nossas cabeças parecendo mais o troar da trovoada com os seus raios luminosos, mas eram explosões e rajadas de todas as armas no seu matraquear característico da máquina de costura.
Mas reagimos ao matraquear das metralhadoras e dos morteiros do IN respondendo com o nosso querer e saber, as nossas armas vomitavam jactos de fogo para o meio do IN através da MG-42 bazuca e morteiro 60. Estava estirado no solo mas sentindo passar por mim os fogachos do IN que se desfaziam nas minhas costas revolvendo aquela terra como que a castiga-la acusando-a por ter recebido no seu seio tal intruso, faço fogo respondendo ao matraquear da outra arma através de uma abertura entre uma árvore e uma rocha onde me tinha postado, quando de repente sou pisado nas costas por alguém e que fica gritando (talvez pela minha imobilidade momentânea já que estava a mudar de carregador)está morto e ao qual respondi azedamente, está morto o carago.
Foi um dia tenebroso, desde o raiar da manhã na qual até as aves e os restantes habitantes daquela mata talvez sentindo mau presságio desertaram, pois não notamos a sua presença, ou não quiseram assistir a tal sinfonia.
Na manhã seguinte contabilizou-se alguns feridos entre nós, já o opositor não pode dizer o mesmo . e descemos SINAI a caminho do ponto de reunião que foi no CHECHE, onde a coluna que nos veio evacuar sofreu pelo caminho uma emboscada com minas anticarro antipessoal e na qual faleceram(2)militares e major do serviço de material que iam fazer uma inspecção do material existente no aquartelamento e sobretudo á célebre jangada que nos chegou a transportar para a outra margem nas deslocações da 1742 a MADINA DO BOÉ e BÉLI para abastecimento dos nossos camaradas ali colocados
A partir desse momento em que vivi a guerra na sua plenitude fiquei a ver este conflito de um outro ângulo, pois o invasor eramos nós, e que o IN nos combatia lutava com toda a sua legitimidade pois aquela terra é dele. Pergunto eu, para quê tanto camarada morto tanto deficiente e que hoje não têm o apoio das pessoas responsáveis deste meu país.
Amo a GUINÉ, e repugna-me ver como está sofrendo o seu povo, talvez um pouco por culpa nossa mas os responsáveis já cá não para serem responsabilizados.
E assim foram passados (2) dias de muitos sempre em actividade constante defendendo as nossas vidas e também as populações, pois elas procuravam o nosso apoio já pois sentiam-se seguras.
Termino desejando a todos os camaradas que passaram pela GUINÉ e em especial aos da CART-1742 aquele abraço.
Abel Santos.
_________________
Pirada- Admin
- Número de Mensagens : 1219
Data de inscrição : 19/12/2007
Tópicos semelhantes
» Jornal "O Fogo", n.º 23 - 2.ª Série, da CArt392/BArt400
» Mensagem de José Martins, Guiné 1968/1970
» Aos veteranos da CCav2332 Angola 1968/1970 - do 1.º Cabo Santos Alfaiate
» Mensagem do veterano Américo Ribeiro Lameiras, da CArt1599/RMM - 1966 a 1968
» Mensagem do veterano Acácio Ribeiro, da CCac2323/BCac2837 - RMM 1968 a 1970
» Mensagem de José Martins, Guiné 1968/1970
» Aos veteranos da CCav2332 Angola 1968/1970 - do 1.º Cabo Santos Alfaiate
» Mensagem do veterano Américo Ribeiro Lameiras, da CArt1599/RMM - 1966 a 1968
» Mensagem do veterano Acácio Ribeiro, da CCac2323/BCac2837 - RMM 1968 a 1970
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|